Nos últimos anos surgiram bastantes projectos americanos que aliam a uma forte sensibilidade pop a influência nas sonoridades originárias do Balcãs e do leste europeu. Nomes como Devotchka, Gogol Bordello, Beirut ou A Hawk and a Hacksaw são alguns dos nomes da face mais visível dessa fusão. Em contrapartida, o mesmo não se passou em terras britânicas, onde as movimentações folk em redor dos ritmos sonoros provenientes dessas regiões geográficas praticamente não se fizeram sentir. Os Oi Va Voi são um dos poucos exemplos dessa realidade, com destaque para a recriação da música judaica, fruto da ascendência familiar de alguns dos seus membros, contando com 3 discos editados antes de 2009, mas com um reconhecimento público relativamente reduzido.
Travelling the Face of the Globe é o 4º album de originais e mantém as premissas dos discos anteriores, ou seja, música judaica (klezmer e companhia), outros ritmos do leste europeu e, se calhar, até latinos e, pontuando essa mistura de sons, uma clara estrutura pop. O início do disco é muito forte. O requinte e a delicadeza dos arranjos de “Waiting”, a profunda espiritualidade de “I Know What You Are” ou o ritmo irrestível do tema título, são, desde logo, um prenúncio para um grande disco. O tema seguinte, “Every Time”, single de apresentação, é um dos poucos passos em falso. A ideia de ter como single um tema com um formato mais easy-listening e baladeiro não foi definitivamente uma boa ideia, como se comprova ouvindo o tema. O outro passo em falso talvez seja, embora em proporções menores, “Foggy Day”, que nos remete um pouco para o ambientalismo dos Zero 7, mas em formato bastante menos interessante. Em todo o caso, nada que diminua acentuadamente o valor do disco e que impeça a existência, por aqui, de outros grandes momentos, como o intimismo presente na adaptação do tradicional hebreu “S’brent”, com voz da húngara Agi Szalóki, os toques etéreos de “Wonder”, o profundamente contagiante “Long Way From Home” ou, a fechar da melhor forma este Travelling the Face of the Globe, a perfeição pop de “Photograph”, com a voz do francês Dick Rivers.
Em suma, pode ainda não ser desta que os Oi Va Voi obtenham o merecido reconhecimento mediático, mas nem por isso este deixa de ser, para mim, um dos grandes discos editados nesta primeira metade de 2009.
P.S. Embora com atraso, aqui está a minha crítica ao disco. Algo que devíamos ter feito com os discos que destacámos ao longo do ano e não fizemos. Fica aqui a minha parte da mea culpa por isso.
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